terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Zé limeira canta para o Gov. Agamenon Magalhães

Conta Orlando Tejo, em seu livro, Zé Limeira – O poeta do absurdo:

“Certa vez, recepcionando visitantes ilustres, o Governador Agamenon Magalhães promoveu um encontro de repentistas em Palácio (a exemplo do que costumava fazer na Paraíba o Presidente João Suassuna, na década de 20), com a participação, entre outros, de Agostinho Lopes dos Santos, José Vicente da Paraíba e os Irmãos Batista...
... Alguns segundos e abre-se uma porta por onde passa o Poeta do Absurdo. Coloca o matulão e a viola sobre o piano, e, reatando o nó de grande lenço encarnado que envolve o pescoço: — Esse aqui não é ninguém não, minha gente, é somente Zé Limeira velho falado. Vim cantá pro Doutor! Cantador pra cantá pro Doutor Agamenon é preciso ter foigo de sete gato! O estadista externou seu prazer em receber mais um poeta paraibano:

— Poeta, esta é minha mulher que, como eu, sente-se imensamente feliz em tê-lo em nossa casa. Limeira aperta a mão da Primeira Dama e expressa-se, à sua maneira espontânea:

— De feição, parece muito com a minha patroa, sendo que ela é pobre do pé da serra e a senhora é uma madama rica da capital!
Àquela altura, todos os presentes já se tomavam de simpatia pelo repentista que fazia questão de cantar para o casal Agamenon Magalhães. Sua participação no torneio já estava sendo uma exigência principalmente de Dona Antonieta. O Poeta do Absurdo escolheu para seu parceiro Otacílio Batista (que, por sinal, foi quem me contou esta história), e os dois passaram a improvisar em martelo agalopado. Otacílio, de acordo com o figurino, fez o tradicional "brinde à dona da casa", fechando assim a estrofe:"

"... E antes que a nossa festa aqui se finde,
Doutor Agamenon, receba o brinde
Que à Dona Antonieta estou erguendo!"

Seguindo a etiqueta, Zé Limeira acompanhou:

"Eu cantando pra Dona Antonieta
A muié do Doutor Agamenon,
Fico como o Reis Magro do Sion,
Me coçando na mesma tabuleta.
Eu aqui vou rasgando a caderneta
De Otacílio Batista Patriota...
Doutor, como eu não tenho um brinde em nota,
Que possa oferecer à sua esposa.
Dou-lhe um quilo de merda de raposa
Numa casca de cana piojota."

A cacimba

A cacimba
(Zé da Luz)
Nessa poesia, a irreverência é o grande marco de Zé da Luz...

Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho
im riba da ribanceira
qui fica assim pru dibáxo
de um pé de tamarinêra.

Pois um magote de moça
quage toda manhanzinha
forma assim aquela tuia
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia.

Eu não sei pruquê razão
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê...

As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió
Nem sargada, nem insôça
Tem um gostim do suó
do suvaco dessas môça...

Quando eu vejo essa cacimba
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá...

...Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magote
de môça tumando banho!

Moça rica (Zé laurentino)

...e a terra caiu no chão!

...E a terra caiu no chão!
(Zé da Luz)

Uma joia rara desse grande poeta de Itabaiana - PB.

Visitando o meu sertão
que tanta grandeza encerra,
trouxe um punhado de terra
com a maior satisfação

Fiz isso na intenção
Como fez Pedro Segundo
de quando eu deixasse o mundo
levá-lo no meu caixão.

Chegando ao Rio, pensei
guardá-lo só para mim
e num saquinho de brim
essa relíquia encerrei!

Com carinho e com cuidado
numa ripa do telhado
o saquinho pendurei...

Uma doença apanhei
e vendo bem próxima a morte
lembrando as terras do norte
do saquinho me lembrei.

Que cruel desilusão!
As traças, sem coração
meterem os dentes no saco
fizeram um grande buraco
e a terra caiu no chão.

As flô de puxinanã

As flô de Puxinanã
(Zé da Luz)


Três mulé ou três irmã
três cachorra da mulesta
Que eu vi num dia de festa
no lugar puxinanã

A mais veia, a mais ribusta,
era mermo uma tentação
Mimosa flor do Sertão
que o povo chamava Augusta

A segunda é Guilhermina
tinha os oios que oh! maldição
Matava qualquer cristão
o oiá dessa menina

Os oios dela parecia
duas estrela tremendo
se apagando e se acendendo
em noite de ventania

A terceira era Maroca
com o corpo muito má feito
mas porém tinha nos peito
dois cuscuz de mandioca

Dois cuscuz que por capricho
quando passaram por eu
minha venta se acendeu
com o cheiro vindo dos bicho

Eu até me embaraçava
no lugar Puxinanã
sem saber das três irmã
qual era a que eu me agradava

Carregando a minha cruz
pra sair desse embaraço
preferi morrer nos braços
da dona dos dois cuscuz.