quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

a linguiça do jumento

Essa é letra de uma musica de Amazan, um expoente na sanfona e no repente em Campina Grande, reparem nos versos desse artista...

A linguiça do jumento
(amazan)

Conheci um fazendeiro no sertão do Seridó
Rico de terra e dinheiro, doido por gado e forró
Chamado João de Luzia, casado com Dona Lia,
com quem morava contente
A sua esposa querida, que no decorrer da vida lhe deu um filho somente
O casal não entendia porque era que o destino
Ou Jesus não permitia que nascesse outro menino
E então criava Joãozinho, que já tava rapazinho, perto da maioridade
Era um jovem de presença, mas fraco de inteligência, pobre de capacidade
Joãozinho era o meninão, ia dormir logo cedo
Tinha medo de trovão, vivia chupando dedo
Não montava num cavalo, não entrava no embalo dos jovens da região
Tudo quanto ele tentava fazer, não se adaptava, era uma decepção
João se preocupava com o futuro do filho
Que não administrava nem uma broca de milho
Certa feita viajou pra São Paulo e retornou com uma máquina possante
Que adquiriu por lá para fabricar jabá de maneira interessante
Quando chegou, sem demora, disse: "Joãozinho, vem cá
Que eu vou lhe ensinar agora como é que se faz jabá:
Você coloca o jumento naquele compartimento, aperta nesse botão
Que ali do outro lado já sai tudo separado com a maior perfeição
Naquela boca acolá, a carne já sai salgada
Pronta para viajar, pesada e empacotada
E ali daquele lado, que tem um cano encarnado com uma ponta comprida
Sai lingüiça só da boa, pronta pra qualquer pessoa comprar e ser consumida.
"Depois de tudo entender, Joãozinho olhou para João
E foi dizendo: "Paiê, e mudando a posição?
Botando a lingüiça lá, vindo pro lado de cá, aqui pro compartimento
E apertando no botão, prestando bem atenção, não vai sair um jumento?
"Menino, quando João escutou isso pegou um ar desgraçado
Disse: "Lata de feitiço! Analfabeto! Tapado!
O único lugar que eu sei que a lingüiça eu coloquei e um jumento saiu,
Foi na velha sua mãe, espia aí o tamanho do jegue que ela pariu!
"Joãozinho ainda preparou-se pra fazer nova pergunta
Mas o seu pai arretou-se, derramou-lhe uma vergunta
de galha de catingueira,
João estirou na carreira sem rumo ou itinerário
O pai de velho morreu e Joãozinho não aprendeu operar o maquinário.

matuto no futebol

Por volta de 1981, num boteco de Campina Grande,ouvi essa perola da poesia nordestina. era o proprio Zé Laurentino, autor da mesma, fazendo todo mundo se embolar de tanto rir com suas poesias...


Hoje o pessoal do mato
ja ta se civilizando
ja tem rapaz estudando
pras bandas da capitá
ja tem moça que namora
com o imbigo de fora
ediceta e coisa e tá

mais essas coisas eu estranho
me dano e nao acompanho
a tá civilização
até que a morte me mate
munca fui numa buate
nunca vi televisão

e esse tá de cinema
que eu nao sei nem como é
se é homi ou muié
se veio da lua ou do só
nunca fui a um treato
e tambem nunca passei
num campo de futebó

é isso mermo patrao
eu nasci pra ser matuto
viver que nem bicho bruto
dando de cumê a gado
eu só acho que sou gente
pruquê um véi meu parente
disse que eu sou batizado

mais pro arte dos pecados
o filho de cumpade chico
o fazendeiro mais rico
dali daquele arrebó
com preguiça de estudar
inventou de inventar
um jogo de futebó

e no paito da fazenda
mandou botar duas barras
e eu fui assistir a farra
do lote de vagabundo
mais quando vi afrouxei
acredite que achei
a coisa mió do mundo

eu cabôco lazarino
com dois metro de artura
os braço dessa grossura
medo pra mim é sulipa
de jogar tive um parpite
e aceitei logo o convite
prumode jogar de quipa

me deram um calçao listrado
e um par de jueiêira
tambem um par de chuteira
e uma camisa de gola
aí gritei arre diabo
eu já peguei touro brabo
e segurei pelo rabo
pruquê num pego uma bola?

sei que o jogo começou
o juiz bom e honesto
pra começar era ernesto
o nome do apitador
prumode o jogo parar
bastava a gente chutar
a cara do companheiro

bola vai e bola vem
um tá de zé paraiba
inventou de dar um driba
no filho de xica brejeira
esse deu-lhe uma rasteira
que o pobre do matuto
passou uns cinco minuto
se embolando na poeira

o juiz mandou chutar
uma bola contra eu
pruquê meu fubeque deu
um coice no honorato
aí o juiz errou
pruque se outro chutou
ele que pagasse o pato

mais afiná meu patrao
nao gosto de confusao
mandei o cabra chutar
fiquei esperando o choque
tanta força a bola vinha
que vinha pequenininha
que nem bala de badoque

quando fui pegar a bola
me atrapaei meu patrao
passou pru entre meus braços
e bateu numa regiao
que foi batendo e eu caindo
me embolando no chao

o povo caiu em riba
me deram um cha de jalapa
uns tres copos de garapa
mais um cha de quixabeira
quando tive uma miora
joguei a chuteira fora
saí batendo a poeira

desse dia em diante
nem mode ganhar dinheiro
nao jogo mais de goleiro
nem com lua nem com só
nem aqui nem no deserto
tambem nao passo nem perto
dum campo de futebó