quinta-feira, 4 de outubro de 2012

EU, A CAMA E NOBELINA

A irreverência é a marca consagrada desse poeta Zé Laurentino.


Seu moço vou lhe contar


uma historia pequenina,

historia de um casamento

que tive com a Nobelina.



Nobelina, meu patrão

morava parede e meia

no sítio donde eu morava

não era lá muito feia,

também não era bonita,

mais tinha o corpo roliço

e os óios da mulata

parecia ter feitiço.



O corpo de Nobelina

endoidava qualquer macho

pois era fino no meio

porém muito grosso embaixo

a cintura da muié

era uma tentação

parecia inté que tinha

sido feita com a mão.



Para o nosso casamento

eu tinha feito um estudo,

a nossa casa pequena

mais tava pronta de tudo

desde a cama, o principal

ao troço mais miúdo.



Todo dia ao meio dia

eu encostava a enxada

mode feliz contemplar

nossa futura morada.



Em meio à mata serena

a casinha era pequena

mais tava bem arrumada

com cinco ou seis tamboretes

uma mesa, um petisqueiro,

uma banca, uma quartinha,

quengo, prato, candeeiro

e um coração de Jesus

de olhinhos bem azuis

que eu comprei no Juazeiro.



E oiava aqueles troços

que nem quem assiste um drama

pois tudo fica bonito

no tempo que a gente ama

mais entre os troços, patrão

um me prendia a atenção

era a danada da cama.



Eita troço abençoado,

de qualquer uma invenção

que o homi fez até hoje,

gravador, televisão,

telefone e telegrama,

pois quem inventou a cama

pra’ mim é o campeão.



Cama é o único objeto

que nunca causa acidente

da queda de uma cama

nunca vi ninguém doente.



Cama é sempre uma cama

seja ela fraca ou cara

cama de couro de boi,

ou cama feita de vara.

Cama coberta de linho,

cama coberta de esteira,

a cama silenciosa

e a cama estaladeira.



Cama que guarda segredo

por isso eu lhe quero bem

porque ela assiste a tudo

sem dizer nada a ninguém.



Quando eu estou doente

a cama é quem me socorre

na cama eu curo a ressaca

depois de um dia de porre

e nela a ressaca vai-se,

é na cama que se nasce,

é na cama que se morre.



De toda música do mundo

eu lhe digo sem fofoca

para mim a mais bonita

é a música que a cama toca.



Aquele seu rangidinho

só rangido de porteira

faz a gente adormecer

nos braços da companheira.



Nem os baiões de Gonzaga,

nem o acordeon de Noca

toca musica mais bonita

do que o que a cama toca.



Mais eu vou deixar a cama

minha companheira alpina

pra’ falar do casamento

que eu tive com a Nobelina.



Tudo pronto, tudo certo

casei-me com a morena

passado uns cinco ou seis meses

nós fomos pra’ uma novena

e a novena era na casa

de seu Antonio Sibiu

por motivo da chegada

de um seu filho Dario

que há quatro ou cinco dias

tinha chegado do Rio.



Quando nós chegamos lá

já tinha gente demais

a novena era do santo

mais veja o que o povo faz

em vez de falar do santo

só falava no rapaz.



Mais como ele tá gordo,

como ele voltou bonito

era a conversa das moças

mas achei muito esquisito

só porque a Nobelina

ao falar com o rapaz

sustentou na sua mão

que quase não solta mais.



Eu fiz que não tava vendo

fui beber no botequim

dei uma cordinha a ela

porque muié é assim,

quando tá com a corda toda

mostra se é boa ou ruim.



E quando eu voltei, seu moço

já fui vendo o carioca

grudado com a Nobelina

e os dois numa fofoca

que uma cachorrada daquela

só vi na casa de Noca.



A essa altura, patrão

me deu sono pra’ dormir

fui convidar Nobelina

porém ela não quis ir

tive que voltar sozinho,

sozinho na madrugada

e nessa noite doutor,

a cama não tocou nada.



Mais não tem nada seu moço,

eu não vou lamentar, pois

Nobelina foi-se embora

eu arranjo outra depois,

quem é forte não reclama

mesmo porque minha cama

só sabe tocar com dois.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Político brasileiro na China...

Braulio Tavares glozando a poesia:
...Lá na China corruto é fuzilado
e a família inda paga a munição!


Vou-me embora morar na velha China

que tem lá seus defeitos, tudo bem,

mas o nosso defeito ela não tem:

dar guarida a quem vive da rapina.

Deputado que lá ganha propina

pagará com a vida a corrução!

Lá na China político ladrão

bem depressa vai preso e condenado…

Lá na China corruto é fuzilado

e a família inda paga a munição!

Desde o tempo das velhas dinastias

toda vez que um político roubava

na melhor das hipóteses ficava

na prisão pelo resto dos seus dias.

Liminares, renúncias, anistias…

nada disso na China é solução!

O remédio é fuzil e pelotão

e um apito na boca dum soldado…

Lá na China corruto é fuzilado

e a família inda paga a munição!

Se um ministro chinês é desonesto

e é pilhado fazendo trambicagem,

a Justiça deslancha a engrenagem

que liquida a questão sem deixar resto.

Doze balas é um preço bem modesto

e o país nunca perde um só tostão

debita na conta do finado…

Lá na China corruto é fuzilado

e a família inda paga a munição!



O casamento de Vicença

Há quem diga que esse cordel é de autoria de Zé Laurentino, cujo título é "O casamento de Vicença", há porem, outros que dizem ser de autoria de Luiz Campos, com o título "Me enganei com minha noiva".

Quando solteiro eu vivia


Era o maior aperreio,

Devido ser muito feio

As moça não me queria.

Quando pr’um forró eu ia

Com qualquer colega meu,

Eles confiava neu

Ia beber e brincar

No fim da festa ia arengar

Quem ia preso era eu.



E pra arranjar namoro

Eu toda via fui mole.

Eu cantei samba, puxei fole,

Usei um cabelo louro,

A boca cheia de ouro,

Chega brilhava de dia.

Quando pr’um forró eu ia

Cheirava que nem uma rosa,

Mas, se eu caçava umas prosa,

As moça não me queria.



Aí eu dizia: “É catimbó

Que alguém botou, mas não sai,

Que mamãe casou com papai,

Vovô casou com vovó,

Inté meu irmão Chicó,

Que é muito mais feio que eu,

Namorou, casou, viveu

Com duas mulher, inté,

Só eu não acho muié

Que queira se esfregar neu.



Um dia Deus descuidou-se,

O satanás se esqueceu,

Que Vicença olhou pra eu

Com uns oião de bico dôce,

Nossos ói se amisturou-se

Como feijão com arroz,

Se abufelemo nós dois

Num amor tão violento

Que marquemo o casamento

Pra quatro dias depois.



No dia de se amarrar,

Se arrumou, eu e ela.

Dei de garra na mão dela

E fui pra igreja casar.

Cheguei no pés do altar,

Recebi a santa bença,

Jurei não ter desavença

Entre eu e minha esposa,

O padre disse umas côsa

E fui viver com Vicença.



Cheguei em casa mais ela,

Fui logo me agasalhando

Que mermo que eu ia pensando

Que ia dormir na costela.

Vicença fez a novela

Por dentro da camarinha,

Quebrou uns troçim que eu tinha,

Me ameaçou na bala.

Ela foi dormir na sala

Eu fui dormir nca cozinha.



Da vida perdi o gosto

Porque Vicença fez isso.

De manhã fui pro serviço,

Mas pra morrer de desgosto.

Cheguei em casa, o sol posto,

Vicença me arrecebeu,

Inté um café freveu,

Botou pra nós dois cear,

Mas, quando foi se deitar,

Nem sequer olhou pra eu.



De Deus perdi a crença,

De nome chamei uns trinta,

Botei uma faca na cinta,

E fui conversar com Vicença.

Vicença deu uma doença

Quando falei em amor,

Aí ela me perguntou:

“Cê pensa que eu sou o que?

Eu me casei com você

Pra lhe fazer um favor”.



Bati com ela no chão,

Puxei a lapa de faca,

Cortei o cóis da casaca

E o elástico do calção.

Vicença tinha razão

De não querer bem a eu.

Não era com nojo deu,

Ou porque não fosse séria,

Sabe Vicença quem era,

Era macho que nem eu.



Eu muito me arrependi

Porque me casei com ela.

Falei logo com o pai dela

E de manhã devolvi.

Muito desgosto eu senti,

Que quase morri inté,

Homem em trajo de muié

Tem muito de mundo afora,

Só caso com outra agora

Logo sabendo quem é.