terça-feira, 28 de agosto de 2012

O casamento de Vicença

Há quem diga que esse cordel é de autoria de Zé Laurentino, cujo título é "O casamento de Vicença", há porem, outros que dizem ser de autoria de Luiz Campos, com o título "Me enganei com minha noiva".

Quando solteiro eu vivia


Era o maior aperreio,

Devido ser muito feio

As moça não me queria.

Quando pr’um forró eu ia

Com qualquer colega meu,

Eles confiava neu

Ia beber e brincar

No fim da festa ia arengar

Quem ia preso era eu.



E pra arranjar namoro

Eu toda via fui mole.

Eu cantei samba, puxei fole,

Usei um cabelo louro,

A boca cheia de ouro,

Chega brilhava de dia.

Quando pr’um forró eu ia

Cheirava que nem uma rosa,

Mas, se eu caçava umas prosa,

As moça não me queria.



Aí eu dizia: “É catimbó

Que alguém botou, mas não sai,

Que mamãe casou com papai,

Vovô casou com vovó,

Inté meu irmão Chicó,

Que é muito mais feio que eu,

Namorou, casou, viveu

Com duas mulher, inté,

Só eu não acho muié

Que queira se esfregar neu.



Um dia Deus descuidou-se,

O satanás se esqueceu,

Que Vicença olhou pra eu

Com uns oião de bico dôce,

Nossos ói se amisturou-se

Como feijão com arroz,

Se abufelemo nós dois

Num amor tão violento

Que marquemo o casamento

Pra quatro dias depois.



No dia de se amarrar,

Se arrumou, eu e ela.

Dei de garra na mão dela

E fui pra igreja casar.

Cheguei no pés do altar,

Recebi a santa bença,

Jurei não ter desavença

Entre eu e minha esposa,

O padre disse umas côsa

E fui viver com Vicença.



Cheguei em casa mais ela,

Fui logo me agasalhando

Que mermo que eu ia pensando

Que ia dormir na costela.

Vicença fez a novela

Por dentro da camarinha,

Quebrou uns troçim que eu tinha,

Me ameaçou na bala.

Ela foi dormir na sala

Eu fui dormir nca cozinha.



Da vida perdi o gosto

Porque Vicença fez isso.

De manhã fui pro serviço,

Mas pra morrer de desgosto.

Cheguei em casa, o sol posto,

Vicença me arrecebeu,

Inté um café freveu,

Botou pra nós dois cear,

Mas, quando foi se deitar,

Nem sequer olhou pra eu.



De Deus perdi a crença,

De nome chamei uns trinta,

Botei uma faca na cinta,

E fui conversar com Vicença.

Vicença deu uma doença

Quando falei em amor,

Aí ela me perguntou:

“Cê pensa que eu sou o que?

Eu me casei com você

Pra lhe fazer um favor”.



Bati com ela no chão,

Puxei a lapa de faca,

Cortei o cóis da casaca

E o elástico do calção.

Vicença tinha razão

De não querer bem a eu.

Não era com nojo deu,

Ou porque não fosse séria,

Sabe Vicença quem era,

Era macho que nem eu.



Eu muito me arrependi

Porque me casei com ela.

Falei logo com o pai dela

E de manhã devolvi.

Muito desgosto eu senti,

Que quase morri inté,

Homem em trajo de muié

Tem muito de mundo afora,

Só caso com outra agora

Logo sabendo quem é.

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